terça-feira, 26 de abril de 2011

Companheiras

     Ali estava acompanhado dela, sua fiel. Sempre, de uma forma ou de outra, ela conseguia perturba-lo, atormentar seu - raro - sono, noites em sonhos, mais ainda. 
     Percebeu que sempre fora acompanhado, não teria pra onde correr, sem muitas alternativas ou becos pra se enfiar,  tudo muito escuro, consequencia dela. O relógio jogavam os minutos, a brisa cortava leve e louca.  Ela gostara, trazia contigo o mais belo que o dia teria a oferecer, era ela, presencial, exposta, fria, viva, morta, insana. Noite. Tão noite.
      Vestida dela, com exclusividade, teu manto longo negro degradê cravejado de brilhantes, alvejados com a mais perfeita simetria indecisa de um atirador,  contornada de dourado. 
      Sentado, trazia entre os dedos amarelos aquele papel que mais cedo encontrara jogado na avenida, agasalhando o mato que pegou no fundo de uma gaveta antiga em seu quarto, agpra, um pouco empoeirada. 
Irradia o claro, o fogo queima, o verde adentra, age, foge, sobe, fumaça, quente.  
      Ele e elas, suas amantes inseparáveis, companheiras irrefutáveis, constantes. Sempre vindo com minhas correntes em mãos, arrastando-as, com os desejos mais ousados, terror psicológico atirado, por todo lado minha barriga remexida, bagunçada. Me pego em batalha, minha batalha, não sei se contra ou a favor, mas luto. De alguma forma, por algo. 
     De longe, me perco, te encontro.

                                       Encontro?  

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Meu céu

  
E meu céu adormece
brando e branco,
empoeirado.

Sentindo o leve toque das estrelas
terminantemente atordoado,
enquanto a areia se alastra
devastando, levando consigo
doce e sal
amargo molhado
sem gosto, meu desgosto.

Acordado
parado
pensando
encenando
monologando 
calado.

Agora, talvez infelizmente mais acordado.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

XII

Para meu coração basta-me teu peito,
para tua liberdade basta, minhas asas. 
De onde minha boca chegará até o céu
o que estava entorpecido sobre tua alma.
É em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o orvalho das corolas.
Socava o horizonte com tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.
Eu falei que cantavas com o vento
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles é alta e taciturna
e entristeces de pronto, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Te povoam ecos e vozes nostálgicas.
Eu despertei e às vezes migraram e fugiram
os pássaros que adormeciam em tua alma. 


Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada

terça-feira, 19 de abril de 2011

Encontro marcado



Ela, o objetivo.
Ele, esperança

E um breve diálogo:

-Será que um dia a alcanço?
-Talvez, continue sendo você.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ela adentro


      Olhava para o alto e de alguma forma, não sei qual ou como, até mesmo o que.. Mas de alguma forma olhar pra lua me confortava, dela temos um ponto de vista em comum,  considerando todos os significados da expressão "ponto de vista"..Ela é a mesma e nesta noite resolveu aparecer linda pra nós, ou talvez não, simplesmente queria se exibir lindamente em mais um ato de luxúria. Um vento leve me cortava e naquele momento a dediquei um beijo - cheio de fumaça - , o joguei na brisa e deixei pairar..

      Hoje a noite estava estranhamente mais fresca, apesar da minha cabeça não estar tão boa quanto, ainda assim conseguia admirar os tons escuros jogados num céu cravejado de estrelas que insistiam em mostrar desenhos entre suas infinitas linhas. 

      Creio que algo vem tomando seu lugar, enquanto o brilho se intensifica, algumas das minhas vontades ficam ofuscados por motivos que nem sempre consigo explicar, as vezes me pego de mãos e pés atados, sem muitas palavras.
Mais do que nunca, entendo a importancia de um abraço, como é intenso a envoltura dos braços, o movimento - encaixe perfeito - dos músculos, os sentimentos que vem ali, juntos, acoplados.. 

      O dia já se inicia, lembrei do que uma pessoa me disse ontem mais cedo. 
Realmente, talvez toda essa calmaria que vem junto a noite, sempre trazendo uma leve solidão, seja um bom momento para ficar acordado e tentar pensar.

                                                                                                Pensar.


" Me sinto tão estranho aqui, que mal posso me mexer.." 
Ouvindo Detonautas Acústico

domingo, 17 de abril de 2011

Grandes pequenas palavras.

Hoje monossilábico,
cabeça pesada.


Enquanto dois mundos insistem em desencontrar.
Cansado.

sábado, 16 de abril de 2011

Retrato

Risco o retrato
ainda marcado
com o formato dos seus lábios
de tom avermelhado
que você me deixou.


Buscando esquecer
o dia, o fim,
buscando lembrar
o que me faça esquecer
o dia que pude te ter.


Mas rabisco o verso
pois ainda me nego
a apagar as lembranças
que ainda me restam.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

La Muerte


Num piscar de olhos,
surge um desgosto na contra mão
uma leve tristeza adormece os lábios,
e um toque singelo
é o suficiente para me abalar..

Perdido meio a nada.
O que fazer? 

Senti um vento gelado na nuca
olhos espremidos, pernas sedentas
sem saber o que esperar..
Momentos de angústia
nervos enraízados a flor da pele,
de uma rosa pálida.

Ao virar,
uma grande capa negra
seguida de um cortejo saudoso 
com uma ponta brilhante
vinha em minha direção,
caçando..
Me procurando,
cabisbaixa. 

Em instantes, 
imagino minha cabeça rolar
sangue escorrendo 
escarlate grosseiro
inexoravel invasão.

Uma neblina escura
começa a nos cercar,
e aquela figura tranquila
tenta me acalmar
diz que será rápida e indolor
como um risco sem cor.

O preto e cinza
dominam o lugar,
enquanto o medo busca a aflição
e parades para se encostar.

Minha ânsia esquisiofrênica
invade o âmbito
vontade de correr e fugir
pra longe d'ali, 
pra longe do meu fim..

E quando pensava em movimentar
vejo algo branco a pairar
e uma voz ecoa imediatamente

Foi rápido como prometido
agora faça-me o favor,
Venha! Acompanhe..

Acompanhando a morte
lá vai ele em passos lentos
seguindo sua vida.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mais uma vez..



Mais uma vez amanheci com o dia e não consegui descansar. Estou sentado movido a cafeína e tédio, com papeis e lápis em mãos, um cigarro ao lado, ouvindo Cássia Eller. Ainda não consegui dormir para poder sonhar, talvez eu não queira, ou simplesmente, desisto destes - ao menos por hoje. 
Me pego com quilos de lembranças ocupando o nada em mente, creio que hoje mais nostalgico que o normal.

Me vem em mente todo o tempo, aquele sexo matinal, tua leve doce quente respiração, toque suave de suas mãos, quando a gente se juntava na mesma cama e ainda com o rosto marcado, amassado, beijávamos. Você virava de lado, dividíamos o travesseiro, entrava na tua coberta e a partir dali...  Rostos colados, corpos unidos, pernas entrelaçadas..

Dois em um ou mais simples, um dividido em dois? 

Não importa, era ali nosso momento, um ritual gostoso de se cumprir, enquanto a manha se colocava em seu lugar, insistíamos em ficar ali, em não levantar.. Teimavamos em nos amar, esquecer o resto dos compromissos, esquecer a aula, o trabalho, esquecer aquele velho mundo cheio de regras e obrigações e viver eu e você, numa frágil bolha, nossa, só nossa...

Enquanto, ainda deitados, nosso amor se consumava e a paixão escorria junta cada gota de suor que transbordava, o dia poderia ser o mais pálido e gelado, mas nossas manhãs eram diferentes, sempre quentes, meio ofegante, com longos suspiros a nos banhar..

Ínicio de um dia comum,hoje talvez, tão longe e utópico, d'uma rotina gostosa, enfumaçada, cheia, feliz, bebada, molhada, morgados..

Mas ainda ficaram guardados, ficaram.
Sim! Nas minhas lembranças, ninguém toca.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Prisioneiro daqui


Reclusão se torna a seguranca do lugar
grades por todos os lados
nos fazem pensar que agora há segurança 
mas isso é um motivo a mais,
para se preocupar..
Já não sei o que preciso fazer
para tentar me ajudar, 
não sei se preciso me prender
ou sair nas ruas para revoltar.

Maldita repressão sociocultural
nos impedindo de expressar
mostrar aos quatro cantos do mundo
os tormentos que vivemos,
mediocridade humana 
a qual sequer tentamos controlar.

Os deixamos livres
para continuarem comandando esta operação,
tática crucial para alimentar
os grandes porcos poderosos
que tem a porra do Brasil em mãos.

Falta de informação e alienação,
culpa da TV, consequência da má educação
que oferecem ao povo,
pobres ingênuos cidadãos.

Eles fingem dar
e nós, fingimos acreditar
que ainda poderemos ter voz, 
sem falar alto ou rebelar
convivendo em comunidades passivas
afinal, isso é o que temos
chamam de democracia.

Até o momento me nego àcreditar
que estou parado sem rezar
ou correndo atrás de um "pai" apaixonado e cheio de compaixão,
simplesmente monologando calado
num mundo de retardados
que vivem perdidos
como cães castrados.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Àquela janela


Passo,
repasso,
perco o compasso
me embolo,
descontrolo ao levantar meu olhar..
Sinto uma dependência eloquente
daquele lugar,
sujeito a fatos constanstes dali
perco meu chão,
sou puxado por várias mãos
que me impedem de continuar.

Diminuo o passo,
ando lentamente
E num átimo,
imagens
palavras
momentos..
Uma nostalgia me invade
sem chances de me safar..

Volto o olhar para dianteira, novamente,
sinto alguém me chamar
ignoro,
volto a andar
tento me despedir de forma afável
Sei que não vou conseguir
mas vou me desafiar.

Abaixo a cabeça
prefiro não pensar nada,
continuo a caminhar.

domingo, 10 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Ultimamente textos não tem saido, então, ficamos no visual..


Desenho original em grafite, editado no PhotoScape.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Devaneios


Ontem escrevia
em linhas tortas,
sem rumo, embaralhadas,
a cada traço, tropeçava, 
me marcavam
me parava.

E eu rabiscava
descrevia, lembrava,
tentava consolidar cenas,
imagens,
poemas..

Perdidas em um oceano mundano,
insano..

Seco.
Solitário.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mentiras


Sim, já a esqueci,
nem lembro que existe..

Não deito lembrando daqueles dias
quando sempre podia contar com sua cia
onde horas voavam, o tempo não parava.
Podia sentir teu corpo ali,
logo ao lado
nós, juntos..

Não lembro mais
das brincadeiras com canetinhas
das tatuagens que fazíamos..
Aqueles palavrões carinhosos
Capeta! Soava tão amoroso,
o cheiro gostoso da sua respiração..

Nem penso nos cigarros pretos
do gostinho de haxixe nos dedos
de você deitada, suada,
completamente largada no colchão.

Nem recordo das noites na tua casa
dos colchões separados
narguilé acesso, kaya enrolada,
taças de vinho em mãos.

Não leio mais tuas cartas
depoimentos ainda apaixonados
nossas fotos, 
sobre estas,
não escorre uma lágrima..

Meio tantas negativas, 
ainda não consigo deixar de dizer..

Sim, amo, você.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...